Empresas e pases fazem ‘corrida para combater o vrus zika

Quase 70 anos depois de ter sido identificado na África, o vrus zika mobiliza de forma indita a comunidade internacional em busca de uma soluo. Esquecido por dcadas, o vrus apenas passou a ser alvo de ateno depois dos casos de microcefalia no Brasil e diante da constatao da Organizao Mundial da Sade (OMS) de que at 4 milhes de pessoas poderiam ser afetadas apenas nas Amricas em 2016.

Uma corrida foi lanada em institutos de pesquisa e em multinacionais em busca de novos produtos. Se durante anos os incentivos econmicos eram inexistentes para produzir alguma resposta, hoje as empresas sabem que quem chegar primeiro ser amplamente recompensado por um mercado vido por qualquer novidade no combate ao zika ou ao mosquito Aedes aegypti.

Documentos internos da OMS obtidos pelo Estado revelam a dimenso da corrida. No total, 96 companhias e institutos tm se lanado na busca por solues para o vrus zika " 31 instrumentos de diagnsticos tm sido pesquisados, alm de 27 vacinas, 8 produtos de terapia e 10 novos instrumentos de controle do vetor.

Levantamento da OMS mostra que a participao de pases emergentes tem sido importante, ainda que limitada busca por novas formas de controlar o mosquito. A pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos esto concentrados nos pases ricos. Das 27 iniciativas de desenvolver uma vacina, apenas quatro esto em pases em desenvolvimento. Com um custo que pode chegar a at US$ 500 milhes, a pesquisa nesse campo tem ocorrido principalmente nos Estados Unidos.

Governos europeus tambm j indicam que esto dispostos a investir. O comissrio de Pesquisas da Comisso Europeia, Carlos Moedas, destinou 10 milhes para o projeto, alm de 1,5 milho do Reino Unido. Se a relao entre a microcefalia e o vrus for provada, o dinheiro poderia ser usado para combater o zika e desenvolver novos produtos, disse.

Laboratrios, porm, esto enfrentando um grande problema: a falta de amostras para pesquisa, o que leva a suspeitas da existncia de um mercado paralelo. H uma penria de amostras, disse ao Estado Marie Paul Kieny, vice-diretora da OMS.

Em fevereiro, o Conselho de Pesquisas Mdicas dandia pediu amostras para a OMS, indicando que estava com pesquisas avanadas para desenvolver um diagnstico rpido. Precisava, porm, do material. Em Cingapura, o Instituto de Bioinformtica tambm se queixa do problema. Ter acesso s amostras e a informaes hoje o grande desafio, diz Sebastian Maurer-Stroh, diretor do centro, que tambm tenta desenvolver novos produtos.

Marie Kieny, da OMS, diz no acreditar em contrabando. Mas fontes de alto escalo de duas instituies diferentes de pesquisas na Amrica do Sul indicaram, na condio de anonimato, que a lei brasileira que impede que amostras do vrus zika sejam compartilhadas no exterior j estaria criando uma rede de contrabando, permitindo que amostras sejam levadas do Pas para outros centros de pesquisas pelo mundo.

Pelas regras, o Brasil impede qualquer tipo de envio de amostras de vrus para o exterior e o compartilhamento acontece apenas em casos especficos, com acordos preestabelecidos. O Pas, por exemplo, chegou a mandar amostras para a OMS. Alm disso, o Centro de Controle de Doenas (CDC) dos Estados Unidos enviou uma equipe para o Brasil e levou quatro amostras, todas testadas.

Para o presidente do Instituto Butant, Jorge Kalil, o Brasil est disposto a colaborar. Mas sempre que puder ter um acordo claro de como o Pas vai ter uma participao nos lucros das futuras pesquisas no exterior. Precisamos estar protegidos para evitar que, depois de colaborar, tenhamos de comprar o produto no futuro daquela entidade que usou nossas amostras, afirmou Kalil. Precisamos fazer acordos de colaborao, e no apenas mandar amostras, disse.

Queixa. No seria a primeira vez que um pas emergente acabaria tendo de comprar um remdio fabricado com base em material que forneceu. H dez anos, a Indonsia abriu uma queixa formal ao se deparar com o fato de que estava sendo obrigada a comprar uma vacina de uma empresa que havia usado justamente suas amostras para chegar ao resultado. A ao dos asiticos levou a OMS a formular uma nova regra para o compartilhamento de dados.

Margaret Chan, diretora-geral da OMS, j saiu em defesa do governo brasileiro. O Brasil est disposto a compartilhar amostras com entidades, com a participao da OMS, diz.

Enquanto uma soluo no chega, os pesquisadores j comeam a diversificar a busca pelas amostras. O prximo destino da ofensiva a Colmbia, onde a OMS observa com cuidado para avaliar se existe uma exploso de casos de microcefalia.

Fonte: Estado.
CNTC

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